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“Os filósofos muçulmanos consideravam a busca pelo conhecimento como um mandamento divino, e o conhecimento da alma, particularmente do intelecto, como um componente crítico desta busca. O domínio deste assunto proporcionava um quadro no qual a mecânica e a natureza das nossas sensações e pensamentos podiam ser explicadas e integradas e oferecia a base epistemológica para todos os outros domínios de investigação. Em oposição aos pontos de vista ocasionalistas dos mutakallimûn, os teólogos muçulmanos, os filósofos desejavam ancorar o seu conhecimento do mundo numa realidade física estável e previsível. Isto implicava naturalizar a própria alma (nafs em árabe), traçando a relação entre os seus sentidos externos e internos e entre as suas faculdades imaginativas e racionais. No entanto, a finalidade última desta disciplina, a conjugação do intelecto com a verdade universal, tinha um aspecto decididamente metafísico e espiritual. As posições psicológicas delineadas por Aristóteles foram o paradigma dominante para os filósofos muçulmanos, modificadas por variações helenísticas que expressavam perspectivas platônicas. Os séculos IX a XII foram o período do rigoroso filosofar que caracteriza a filosofia islâmica clássica […]”. (Alfred Ivry)
Tadeu Verza e Meline Sousa
Saiba mais“A honorável e respeitada escola estoica foi provavelmente a tradição de maior influência no Mediterrâneo do período helenístico grego e imperial romano e dificilmente encontraremos estudiosos dispostos a caracterizá-los simplesmente como loucos (a não ser, talvez, os céticos, claro). Por que então, quando Cavendish propõe uma matéria animada que a tudo pervade, que é dotada de movimento próprio, que é origem última de tudo o que se move e da racionalidade que ordena o cosmos, sua doutrina é desmerecida inclusive de valor histórico e remetida às fantasias incontroláveis de uma mulher insensata? Essa foi uma doutrina defendida, com suas devidas proporções, pelos filósofos mais respeitados do século III, II e I AEC, e dos séculos I e II da era comum, além de ter influenciado pensadores dos séculos subsequentes tendo até uma influência considerável em intelectuais da modernidade”.
Matheus Tonani Marques Pereira
Saiba maisPrefácio de Ivan Domingues
“O que as heterotopias fazem, tanto no campo epistemológico quanto no político, é tornar a ordem visível e legível, ao mapear os espaços existentes (seja o espaço discursivo, do conhecimento, sejam espaços físicos concretos, arquiteturais), funcionando como locais de reordenamento. Ao dar a ver os espaços naturalizados da ordem vigente, elas permitem que tal ordem, até então implícita, apareça, mas também que apareçam seus interstícios, suas fissuras, portanto seus limites, anunciando a possibilidade de que outras formas possam se instalar. Mas, antes mesmo desta “promessa” que se dá no tempo, demonstram que tal ordem hegemônica não é absoluta e onipresente, ou seja, já não ocupa, no momento atual, todo o espaço de forma homogênea – se o fizesse, não seria possível para nós percebê-la. O espaço, heterogêneo e complexo, é composto por uma rede de relações entre elementos que atuam sincronicamente, sendo que, ao identificá-las, já estamos a atuar sobre ele.
A esquerda marxista e existencialista acusou Foucault de tornar impossível a ideia de “revolução”, a qual se baseia em uma concepção dialética, segundo a qual as contradições geram, como fruto da passagem do tempo, as transformações. Se pensarmos que o espaço da ordem vigente já possui, no momento atual, fissuras e interstícios que evidenciam a ordem em funcionamento, mostrando que ela não é natural, e sim construída, a abertura para a transformação pode ser pensada não apenas, ou não necessariamente, em uma lógica temporal, diacrônica, mas espacial, sincrônica. A revolução, enquanto algo porvir, é substituída por formas alternativa de ordenamento, de existência ou resistência já presentes.
A partir de Jorge Luiz Borges e da noção de heterotopia, Foucault evidencia esta ligação entre o espaço e a ordem, bem como entre ambos e o pensamento ou a produção de conhecimento, já que é preciso dispor as coisas em locais específicos para que façam sentido para nós. Se os objetos do conhecimento são indistinguíveis, tornam-se também incognoscíveis. Quando nos deparamos com o incongruente, o inconcebível, precisamos recorrer a este espaço que sustenta a ordenação e fica evidente que nossa capacidade conhecer depende dele, bem como que ele possui estas “casas brancas” através das quais conseguimos olhá-lo – afinal, se estivéssemos totalmente imersos na hegemonia desta ordem, ela nos seria invisível. Talvez, permaneçamos bastante tempo nesta imersão que conduz à invisibilidade das formas dominantes de ordem, política e epistemológica. No entanto, quando nos voltamos para este espaço e o observamos de fora, como um etnólogo de nossa própria cultura, percebemos que ele, como todo espaço, possui uma história. Se o espaço epistemológico é aquele sobre o qual se constitui o que aparece para nós como a “verdade”, então esta também possui uma história, e é sobre essa “mesa operacional” que essa história se encontra, esperando para ser recuperada.”
Débora Bráulio Santos
Saiba maisPrefácio de Jacyntho Lins Brandão
“A distinção é escolar: poucas ideias na história da filosofia são tão difundidas e assumidas quanto aquela que afirma que os diálogos de Platão, essencialmente, apresentam uma teoria ou doutrina dos dois mundos, uma separação irrevogável entre o “mundo das Ideias”, e o “mundo sensível”, este nosso mundo aqui, imitação imperfeita do primeiro, e que, por isso mesmo, passa como uma cópia inferior, sombra da verdade.
De saída, se não fosse essa definição para a filosofia platônica tão comum e rigidamente estabelecida, não entenderíamos nada da expressão “teoria dos dois mundos” de Platão: para não falar de “teoria”, um conceito que pode gerar as maiores dificuldades, ficaríamos totalmente perplexos se parássemos para pensar no que significa afirmar que a filosofia de Platão pode ser resumida numa separação de “dois mundos”. Um mundo apenas já não seria razão suficiente para uma longa reflexão filosófica? A palavra “mundo” é muito comum na linguagem corrente, revestindo-se de uma polissemia impressionante, sendo também uma questão crucial na história da filosofia, o que por si só já seria uma primeira justificativa para o projeto deste livro, o de mostrar o papel que Platão assume nesse processo de formação de um conceito ou definição de mundo.
Não obstante, a hipótese precisa defendida neste texto é a de que o rótulo “teoria dos dois mundos”, quando aplicado para definir a essência do pensamento de Platão, além de prescindir de uma consideração mais satisfatória do que significa “mundo” propriamente, também prescinde de uma análise mais detida da filosofia dos diálogos, e, a bem da verdade, os adeptos de uma tal interpretação não têm clareza com relação a seus pressupostos e os sentidos na base de suas afirmações. Em linhas gerais, sabemos das implicações que uma inadvertida concepção da teoria dos dois mundos impõe à filosofia platônica: seria como se o filósofo fosse alguém que desejasse habitar um outro mundo, munido de uma teoria do conhecimento absurda e inatual, cujas contrapartes práticas seriam o autoritarismo político, o intelectualismo moral e uma escatologia amedrontadora”.
George Matias de Almeida Júnior
Saiba mais“Como se deve elaborar o pensamento de que nossas capacidades cognitivas são atualizadas na própria experiência perceptual, e não apenas nos juízos em que um sujeito responde à sua experiência perceptual?
De certa forma alinhado com a chamada “Escola de Filosofia de Pittsburgh”, proponho tratar dessa questão seguindo os passos dados por pessoas como John McDowell, que buscam explorar a relação entre pensamento, linguagem e experiência não apenas a partir de ideias encontradas no trabalho de filósofos analíticos contemporâneos como Frege, Sellars e Travis, mas também por meio das lentes de pensadores tradicionalmente estranhos à tradição analítica ‒ certamente Hegel, mas também, e de forma bastante significativa, Kant.”
Daniel Debarry
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