“Os filósofos muçulmanos consideravam a busca pelo conhecimento como um mandamento divino, e o conhecimento da alma, particularmente do intelecto, como um componente crítico desta busca. O domínio deste assunto proporcionava um quadro no qual a mecânica e a natureza das nossas sensações e pensamentos podiam ser explicadas e integradas e oferecia a base epistemológica para todos os outros domínios de investigação. Em oposição aos pontos de vista ocasionalistas dos mutakallimûn, os teólogos muçulmanos, os filósofos desejavam ancorar o seu conhecimento do mundo numa realidade física estável e previsível. Isto implicava naturalizar a própria alma (nafs em árabe), traçando a relação entre os seus sentidos externos e internos e entre as suas faculdades imaginativas e racionais. No entanto, a finalidade última desta disciplina, a conjugação do intelecto com a verdade universal, tinha um aspecto decididamente metafísico e espiritual. As posições psicológicas delineadas por Aristóteles foram o paradigma dominante para os filósofos muçulmanos, modificadas por variações helenísticas que expressavam perspectivas platônicas. Os séculos IX a XII foram o período do rigoroso filosofar que caracteriza a filosofia islâmica clássica […]”. (Alfred Ivry)
Tadeu Verza e Meline Sousa
Saiba maisPrefácio de Jacyntho Lins Brandão
“A distinção é escolar: poucas ideias na história da filosofia são tão difundidas e assumidas quanto aquela que afirma que os diálogos de Platão, essencialmente, apresentam uma teoria ou doutrina dos dois mundos, uma separação irrevogável entre o “mundo das Ideias”, e o “mundo sensível”, este nosso mundo aqui, imitação imperfeita do primeiro, e que, por isso mesmo, passa como uma cópia inferior, sombra da verdade.
De saída, se não fosse essa definição para a filosofia platônica tão comum e rigidamente estabelecida, não entenderíamos nada da expressão “teoria dos dois mundos” de Platão: para não falar de “teoria”, um conceito que pode gerar as maiores dificuldades, ficaríamos totalmente perplexos se parássemos para pensar no que significa afirmar que a filosofia de Platão pode ser resumida numa separação de “dois mundos”. Um mundo apenas já não seria razão suficiente para uma longa reflexão filosófica? A palavra “mundo” é muito comum na linguagem corrente, revestindo-se de uma polissemia impressionante, sendo também uma questão crucial na história da filosofia, o que por si só já seria uma primeira justificativa para o projeto deste livro, o de mostrar o papel que Platão assume nesse processo de formação de um conceito ou definição de mundo.
Não obstante, a hipótese precisa defendida neste texto é a de que o rótulo “teoria dos dois mundos”, quando aplicado para definir a essência do pensamento de Platão, além de prescindir de uma consideração mais satisfatória do que significa “mundo” propriamente, também prescinde de uma análise mais detida da filosofia dos diálogos, e, a bem da verdade, os adeptos de uma tal interpretação não têm clareza com relação a seus pressupostos e os sentidos na base de suas afirmações. Em linhas gerais, sabemos das implicações que uma inadvertida concepção da teoria dos dois mundos impõe à filosofia platônica: seria como se o filósofo fosse alguém que desejasse habitar um outro mundo, munido de uma teoria do conhecimento absurda e inatual, cujas contrapartes práticas seriam o autoritarismo político, o intelectualismo moral e uma escatologia amedrontadora”.
George Matias de Almeida Júnior
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